Distúrbio do
déficit de atenção sem hiperatividade
Viviane Alves Vieira
e Claudinéa Mendes da Silva
RESUMO:
A intenção deste artigo é discutir os distúrbios causados
pelo transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Defini-se uma
patologia caracterizada por desatenção, fraca
supervisão interna, pequeno âmbito de atenção, desorganização, hiperatividade
(apesar de que só metade das pessoas com DDA sejam hiperativas), problemas de
controle de impulso, dificuldade de aprender com erros passados, falta de
previsão e adiamento. Sabemos como os estabelecimentos de ensino lidam
com os portadores dos distúrbios de aprendizagem. Espero que este artigo venha
contribuir com os profissionais da área de educação, uma vez que há falta de
informação, pesquisas e estudos referentes ao déficit de atenção.
Palavras - chave: Déficit de atenção, distúrbio, aprendizagem,
professor.
INTRODUÇÃO
De acordo com a APA ( Associação Psiquiátrica
Americana),o TDAH é um transtorno psiquiátrico que tem como características
básicas a desatenção, a agitação (hiperatividade) e a impulsividade, podendo
levar a dificuldades emocionais, de relacionamento, bem como a baixo desempenho
escolar e outros problemas de saúde mental. Embora a criança hiperativa tenha
muitas vezes uma inteligência normal ou acima da média, o estado é
caracterizado por problemas de aprendizado e comportamento. Os professores e
pais da criança hiperativa devem saber lidar com a falta de atenção,
impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável da criança.A criança com Déficit de Atenção muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir criança hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima.concluir as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é uma forma
usada para relacionar um transtorno de desenvolvimento específico, que é
observado tanto em crianças como em adultos, destacando uma inibição
comportamental, atenção sustentada, resistência à distração e também a
regulação do nível de atividade da pessoa.
A hiperatividade teve muitos nomes no decorrer dos anos, tais
como: síndrome da criança hiperativa, reação hipercinética da infância,
disfunção cerebral mínima e transtorno de déficit de atenção (com ou sem
hiperatividade). Após grupos de psiquiatras realizarem pesquisas, chegou-se à
conclusão de que o TDAH é um transtorno da inibição da auto regulação.
Em 1980, a associação Americana de Psiquiatria adotou
oficialmente o termo Transtorno do Déficit de Atenção e no ano de 1994 foi
atualizado para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TODA/H),
onde o acréscimo da barra inclinada significa que o problema pode ocorrer com
ou sem o componente de hiperatividade, inicialmente considerado o sintoma mais
importante e definidor do quadro.
Principais
sintomas:Falta de atenção:
Desvia facilmente a atenção do que está fazendo e comete erros por prestar pouca atenção a detalhes. Muitas vezes distrai-se com seus próprios devaneios ou então um simples estímulo externo o tira do que está fazendo. Dificuldade de concentração em palestras, aulas, leitura de livros.
Imperativo e/ ou Impulsividade:
Inquietação – mexe as mãos e/ou os pés quando sentado, musculatura tensa, com dificuldade em ficar parado num lugar por muito tempo. Costuma ser o "dono" do controle remoto. Faz várias coisas ao mesmo tempo, está sempre a mil por hora, em busca de novidades e de estímulos fortes. Detesta o tédio. Consegue ler, assistir televisão e ouvir música ao mesmo tempo. Muitas vezes é visto como imaturo insaciável. Pode falar comer, comprar... Compulsivamente e/ou sobrecarregar-se no trabalho. Muitos acabam estressados, ansiosos e impacientes. Baixo nível de tolerância, não sabe lidar com frustrações, com erros (nem os seus, nem dos outros). Muitas vezes sente raiva e se recolhe.
Impaciência, não suporta esperar ou aguardar por algo: filas, telefonemas, atendimento em lojas, restaurantes, quer tudo para "ontem".
Como diagnosticar:
A grande maioria dos autores coincide em afirmar que o diagnóstico do TDA/H é clínico, dependendo de uma criteriosa entrevista com a pessoa avaliada, além da entrevista de pessoas próximas (pais, irmãos, cônjuges, etc.). A necessidade de envolver uma terceira pessoa na avaliação diagnóstica e no tratamento encontra justificativa no fato de com alguma freqüência o adulto com TDA/H não fazer uma crítica adequada de suas características.
Questionários e escalas de avaliação podem ser úteis para estruturar melhor a investigação. Um meio prático é a utilização dos critérios diagnósticos do DSM-IV e do CID-10.
Testes neuropsicológicos podem dar resultados falso-negativos e falso-positivos, portanto não se prestam como elementos diagnósticos precisos. São úteis para avaliar transtornos de aprendizado comórbidos, ou como reforçadores do diagnóstico clínico.
A avaliação é feita desde a infância uma vez que o transtorno é crônico e a pessoa já nasce com ele..
Crianças ou adolescentes devem ser encaminhados pelos pais e/ou professores quando há fatores decorrentes do TDAH (DDA) tais como:
Dificuldade no aprendizado. Há 2 tipos:
Hiperativos/impulsivos: conversam, não param quietos em sua cadeira, derrubam material , saem da classe, atrapalham o professor e seus colegas na sala de aula. Em casa não conseguem sentar e fazer as tarefas até o final. Não conseguem se concentrar no que fazem.
Desatentos: são calmos, aparentemente prestam muita atenção ao professor mas seus pensamentos estão longe,”viajando”. O mesmo acontece quando estão fazendo suas tarefas em casa. Esse grupo é mais difícil de ser diagnosticado na infância.
Tratamento
O
tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções
psicossociais e psicofarmacológicas.15
No âmbito
das intervenções psicossociais, o primeiro passo deve ser educacional, através
de informações claras e precisas à família a respeito do transtorno. Muitas
vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, a fim de que
aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as
melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na organização e no
planejamento das atividades. Por exemplo, essas crianças precisam de um
ambiente silencioso, consistente e sem maiores estímulos visuais para
estudarem.16
Intervenções
no âmbito escolar também são importantes. As intervenções escolares devem ter
como foco o desempenho escolar. Nesse sentido, idealmente, as professoras
deveriam ser orientadas para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada,
com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambiente escolar previsível
ajudam essas crianças a manterem o controle emocional. Estratégias de ensino
ativo que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem são
fundamentais. As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e
necessitam ser explicadas passo a passo. É importante que o aluno com TDAH
receba o máximo possível de atendimento individualizado. Ele deve ser colocado
na primeira fila da sala de aula, próximo à professora e longe da janela, ou
seja, em local onde ele tenha menor probabilidade de distrair-se. Muitas vezes,
as crianças com TDAH precisam de reforço de conteúdo em determinadas
disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no
momento do diagnóstico, em função do TDAH. Outras vezes, é necessário um
acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como, por
exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e de
atividades. O tratamento reeducativo psicomotor pode estar indicado para
melhorar o controle do movimento.16
Em
relação às intervenções psicossociais centradas na criança ou no adolescente, a
psicoterapia individual de apoio ou de orientação analítica pode estar indicada
para: a) abordagem das comorbidades (principalmente transtornos depressivos e
de ansiedade); e b) a abordagem de sintomas que comumente acompanham o TDAH
(baixa auto-estima, dificuldade de controle de impulsos e capacidades sociais
pobres). A modalidade psicoterápica mais estudada e com maior evidência
científica de eficácia para os sintomas centrais do transtorno (desatenção,
hiperatividade, impulsividade), bem como para o manejo de sintomas
comportamentais comumente associados (oposição, desafio, teimosia), é a
cognitivo-comportamental, especialmente os tratamentos comportamentais.6
Entretanto, os resultados recentes do MTA (ensaio clínico multicêntrico,
elegantemente desenhado, que acompanhou 579 crianças com TDAH por 14 meses
divididas em quatro grupos: tratamento apenas medicamentoso, apenas
psicoterápico comportamental com os crianças e orientação para os pais e
professores, abordagem combinada e tratamento comunitário) demonstram
claramente uma eficácia superior da medicação nos sintomas centrais do
transtorno quando comparada à abordagem psicoterápica e ao tratamento
comunitário. Entretanto, a abordagem combinada (medicação + abordagem
psicoterápica comportamental com os crianças e orientação para os pais e professores)
não resultou em eficácia maior nos sintomas centrais do transtorno quando
comparada a abordagem apenas medicamentosa.17 A interpretação mais
cautelosa dos dados sugere que o tratamento medicamentoso adequado é
fundamental no manejo do transtorno.
Em
relação às intervenções psicofarmacológicas, serão discutidos apenas os
aspectos mais recentes ou controversos. Para uma revisão mais aprofundada do
tema, sugere-se a revisão de Spencer et al. (1996).15 Na atualidade,
a indicação de psicofármacos para o TDAH depende das comorbidades presentes.18
A literatura apresenta os estimulantes como as medicações de primeira escolha.19
Existem mais de 150 estudos controlados, bem conduzidos metodologicamente,
demonstrando a eficácia destes fármacos.15 É importante frisar que a
maioria desses estudos restringe-se a meninos em idade escolar, embora Smith et
al. (1998)20 demonstrem efetividade semelhante para crianças e
adolescentes. Sharp et al. (1999)21 encontraram resposta similar aos
estimulantes em meninas com diagnóstico de TDAH. No Brasil, o único estimulante
encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se
situa entre 20 mg/dia e 60 mg/dia (0,3 mg/kg/dia a 1 mg/kg/dia). Como a
meia-vida do metilfenidato é curta, geralmente utiliza-se o esquema de duas
doses por dia, uma de manhã e outra ao meio dia. Cerca de 70% dos pacientes
respondem adequadamente aos estimulantes e os toleram bem.15 Essas
medicações parecem ser a primeira escolha nos casos de TDAH sem comorbidades e
nos casos com comorbidade com transtornos disruptivos, depressivos, de
ansiedade, da aprendizagem e retardo mental leve.18,22,23 O Texas
Children's Medication Algorithm Project23 desenvolveu um
consenso de experts para uso de medicação em crianças com transtorno
depressivo e TDAH. A primeira indicação é de uso de estimulante e , se
necessário, indica-se agregar um inibidor seletivo da recaptação de serotonina,
como a fluoxetina. Este posicionamento é justificado pela falta de eficácia dos
antidepressivos tricíclicos nas depressões de crianças. São aspectos
controversos em relação ao uso de metilfenidato: a) interferência no
crescimento. Estudos recentes têm demonstrado que o uso não altera
significativamente o crescimento. Adolescentes tratados e não tratados com
metilfenidato chegam ao final da adolescência com alturas similares;24
b) potencial de abuso. Estudo recente demonstra claramente uma prevalência
significativamente maior de uso abusivo/dependência a drogas em adolescentes
com TDAH que não foram tratados com estimulantes quando comparados com jovens
com o transtorno tratados com estimulantes;25 e c) tempo de
manutenção do tratamento. Embora inexistam estudos sobre a questão,
clinicamente as indicações para os chamados "feriados terapêuticos"
(fins de semana sem a medicação), ou para a suspensão da medicação durante as
férias escolares são controversas. A pausa no uso de metilfenidato nos fins de
semana talvez possa ter indicação naquelas crianças em que os sintomas causam
prejuízos mais intensos apenas na escola, ou naqueles adolescentes em que o
controle do uso de álcool ou de outras drogas ilícitas é difícil nos fins de
semana. A indicação para a suspensão parece ocorrer quando o paciente apresenta
um período de cerca de um ano assintomático, ou quando há melhora importante da
sintomatologia. Suspende-se a medicação para a avaliação da necessidade de
continuidade de uso.
Mais de
25 estudos apontam a eficácia dos antidepressivos tricíclicos (ADT) no TDAH.
Novamente, a maioria dos estudos restringe-se a crianças em idade escolar.15
Clinicamente, os ADT são indicados nos casos em que não há resposta aos
estimulantes e na presença de comorbidade com transtornos de tique ou enurese.18
Em relação ao uso de ADT, merecem destaque os seguintes aspectos: a) dosagem. A
dosagem adequada de imipramina situa-se na faixa entre 2 mg/kg/dia a 5
mg/kg/dia. É prática comum no nosso meio a utilização de subdosagem de ADT para
o tratamento de crianças; e b) efeitos cardiotóxicos. Existem, na literatura
mundial, alguns relatos de morte súbita em crianças em uso de desipramina.
Muito provavelmente, essas mortes não se relacionem diretamente ao uso da
medicação. Entretanto, por cautela, deve-se sempre monitorizar, através de
eletrocardiograma, qualquer criança recebendo ADT, antes e durante o tratamento.26
Alguns
estudos também demonstram a eficácia de outros antidepressivos no TDAH,
principalmente a bupropiona. A dosagem de bupropiona utilizada é de 1,5
mg/kg/dia a 6 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 tomadas; doses acima de 450 mg/dia
aumentam muito o risco de convulsões, que é a principal limitação para sua
utilização. Seus principais efeitos colaterais são agitação, boca seca,
insônia, cefaléia, náuseas, vômitos, constipação e tremores.27
Recentemente,
um estudo de metanálise sobre uso da clonidina no TDAH encontrou um efeito
positivo nos sintomas; sua efetividade pode ser comparada à dos antidepressivos
tricíclicos.28 Seu uso é indicado quando houver presença de
comorbidades que contra-indiquem o uso dos estimulantes ou quando estes não
forem tolerados. As doses utilizadas situam-se entre 0,03 mg/kg/dia e 0,05
mg/kg/dia e a principal contra-indicação é a preexistência de distúrbios da
condução cardíaca, devido aos seus efeitos colaterais relacionados com
alterações cardiovasculares.29 Entretanto, clinicamente, ela tem
sido associada aos estimulantes, principalmente nos casos em que o uso isolado
dos últimos produz alterações do sono ou rebote sintomatológico no final do
dia.
Conclusão
O
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é uma síndrome
psiquiátrica de alta prevalência em crianças e adolescentes, apresentando
critérios clínicos operacionais bem estabelecidos para o seu diagnóstico.
Modernamente, a síndrome é subdividida em três tipos principais e apresenta uma
alta taxa de comorbidades, em especial com outros transtornos disruptivos do
comportamento. O processo de avaliação diagnóstica é abrangente, envolvendo
necessariamente a coleta de dados com os pais, com a criança e com a escola. O
tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções
psicossociais e psicofarmacológicas, sendo o metilfenidato a medicação com
maior comprovação de eficácia neste transtorno.
REFERENCIAS
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BELLINI, EDYLEINE, O transtorno de
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DIRECIONAL EDUCADOR.Cidade: São Paulo, editora Grupo Direcional,
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BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. Transtorno de Deficit de Atenção/Hiperatividade: Atualização
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